14.12.06

Café de lembranças

Ela olha para o café.
Pensa no que diabos estava fazendo.
Valia a pena se torturar tanto assim?

"Acabou.Não dá mais."

Palavras que ecoavam em sua cabeça.

Queria se livrar de tudo. Mas era difícil.
Passava pelos lugares em que ficaram juntos.
Gostava das mesmas coisas que ele gostava.
Tinham inclusive as mesmas opiniões sobre diversos assuntos.
Pegou algumas manias dele.
Como se livrar disso?

Mas a pergunta seria: Queria se livrar disso?

Sentia-se bem com ele.
Ele a fez sorrir.
Ele a fez chorar.
Ele a fazia tão feliz.
Agora,ele a faz tão triste.

E ele não se importa. Não mais.
Ou será que um dia se importou?

E, ainda sim, ela sente sua falta.

Ele já deve estar em outra.
É a vida.

O que impede ele do contato?

Poderiam ser amigos.
Poderiam.
Silêncio.

Ela olha para o café.
Pensa no que diabos estava fazendo.
Valia a pena se torturar tanto assim?

"Acabou.Não dá mais."

Queria esquecer tudo.

Mas, ainda assim, ela sente sua falta.

11.11.06

Criação ou ilusão?
Lara segue pensando sobre o que escrever. Seria ela um personagem de uma outra história? Uma vida criada para fazê-la pensar no tempo. No tempo que ela deixou passar sem perceber. No tempo que ela gastou e não aproveitou. No tempo em que ela encontrou seu criador. No tempo que agora insiste em passar devagar para fazê-la pensar ou reavaliar seus sentimentos.
Reavaliar seus sentimentos? Mas Lara sabe o que sente. No começo, não queria enxergar, achava que não fosse isso. Na verdade, não havia percebido mesmo. Entretanto, a persistência do escritor foi perseverante. Ele queria atingi-la, tentou de todas as formas. E conseguira.
Sim, Lara fora uma idiota. Pensar que, mesmo aproveitando momentos ótimos com seu criador, isso iria durar. Mas, infelizmente, ela deveria saber que tudo se desgasta. Ele pode pegar uma folha e apagar o que tinha escrito. Ou rasgar, apenas. Ele pode fazer o que quiser. Criar uma nova personagem. E repetir tudo. Ela é apenas uma criação.
Lara percebe que não é real. Nada é real. Mas por que ele não escreve nada a respeito?
E a pergunta continua ressoando pelas folhas do bloco.

31.10.06

Imã surpresa

E ele olhava para mim. Insistia em olhar para mim. Podia observar a paisagem pela janela, sair para pegar um ar, apreciar a música que tocava ao fundo,mas não.

Parecia que o mundo havia simplesmente parado de girar. Segundos que pareciam minutos. Minutos que pareciam horas. Horas que pareciam séculos. Séculos que aparentavam uma vida inteira, sem pressa.

E seus olhos pareciam insistir em me percorrer. Procuravam incessantemente os meus. Estes, por mais que quisessem fugir, que estivessem habituados a tal, sentiam-se atraídos como imãs. Mas por que agiam de tal modo?

Olhar direto nos olhos nunca foi um hobby para mim. Sempre foi algo que me intrigava. Para mim, os olhos eram as portas (e não,janelas) da alma, dos sentimentos guardados, trancafiados a sete chaves, dos segredos mais profundos e inconscientes. Não devem ser lançados com frequência, diretamente. É estar apto a se desarmar, a dar o braço a torcer.

E era o que aqueles olhos faziam comigo. A atração era inevitável. Pareciam combater e derrotar aos poucos a minha aparente muralha sentimental.

Aparente. Droga. Aparente.
Narrativa percorrida

A vida é uma narrativa.

Para ser bem feita,deve ter total dedicação. As primeiras palavras são fundamentais. São elas que criarão as primeiras orações,logo,os primeiros sentidos,aprendizados. É o que definirá o modo de defender os caminhos a serem percorridos,os argumentos ditados pelo destino.
Introdução feita,passa-se para o Desenvolvimento. É nele que os acontecimentos se desenrolarão. Mas,ainda,os primeiros acontecimentos. Nada muito de repente. Família,colegas,amigos. Lazer,diversão. Mas aí,eles aparecem.O Amor.A Dor. A dor de uma Amizade perdida. A descoberta do mundo. Vêm de forma avassaladora,como furacões,tsunamis,revirando e alagando a intocada ilha do coração. Mas,calma. O desespero é comum e ainda estamos na Complicação.
De repente,como uma luz no fim do túnel,ele surge:o Clímax. Aparece como o grande super-herói,disposto a resolver todos os problemas. Constrói novas ilhas,mas sem retirar muito o mar de surpresas e desilusões,necessárias. Afinal,uma vacina é feita com antígenos. Os próprios problemas superarão outras complicações. Além de que são eles que nos manterão com os pés na terra,agora,molhada. Assim,ele,após grande ajuda,nos deixa na mão do querido Desfecho.
É ele que nos indicará o caminho certo a ser seguido. As amizades a serem mantidas. O verdadeiro amor a ser aproveitado. A família a ser completada. A carreira a ser seguida. A felicidade a ser encontrada. Mas ele só nos aconselhará.
Afinal,o final feliz da vida só nós mesmos podemos traçar.