26.10.08

Carona para a vida

Eu gostaria de contagiar os outros com alegria quando estou feliz
Eu gostaria de gritar socorro quando estou triste
Eu gostaria de ser menos orgulhosa quando sei que devo ser menos teimosa
Eu gostaria de saber como fugir de mim mesma em algumas horas ruins
Eu gostaria de saber para onde ir quando quisesse ir para lugar algum
Eu gostaria de parar de pensar em coisas que me fazem mal
Eu gostaria de parar de me culpar por coisas das quais não tenho culpa
Eu gostaria de andar por aí por simplesmente andar
Eu gostaria de contar o tempo sem que ele corresse atrás de mim
Eu gostaria que algumas horas fossem mais longas e outras bem mais curtas
Eu gostaria de poder viver de criar para sempre
Eu gostaria de brincar de criar de viver
Eu gostaria que as pessoas fossem mais decididas e que essas decisões fossem boas para nós
Eu gostaria que você ficasse para sempre sem pensar no amanhã
Eu gostaria de aprender a surfar de fato e não enrolar
Eu gostaria de aprender a voltar a andar de skate e lembrar da moleca que ainda há
Eu gostaria de pular de pára-quedas, mesmo tendo medo de altura
Eu gostaria de cantar mais, tocar mais, compor mais
Eu gostaria de escrever textos em que você saiba que o protagonista é você
Eu gostaria de ensinar o quanto tudo pode ser mais simples
Eu gostaria de aprender tudo o que você pode me ensinar
Eu gostaria de sentir menos, pressentir menos, não me deixar encantar
Eu gostaria de ter um lado seu só meu e um meu só seu
Eu gostaria de um abraço forte de conforto, não de revelações
Eu gostaria de ter o pôr-do-sol num vidrinho para me animar quando precisasse
Eu gostaria de dizer "que sea diferente de alguna manera" se você perguntasse
Eu gostaria de tantas coisas.
Mas, acima de tudo, uma única.
Que nelas você me acompanhasse.

17.9.08

Vazio cheio

Olhava para aquele copo
Algo deveria preenchê-lo
Uma bebida doce
Para os momentos bons
Um drink forte
Para os momentos de coragem
Uma tequila talvez
Para os momentos de maior loucura
Uma cerveja
Para o casual
Um chopp
Para marcar um encontro
Uma dose
Para cumprir uma promessa
Ou apenas uma bebida qualquer
Não importa qual for
Para amenizar uma dor
Uma tristeza
Uma saudade de si mesmo
Um vazio
Como aquele copo
Tão cheio de tudo
Tão vazio de nada
Tão pessoal quanto aquela pessoa
Tão momentâneo quanto aquele momento
Tão...
Vazio.

29.6.08

Mentiras
O que é demonstrar um sorriso quando não se está bem?
O que é rir para que as lágrimas não escorram de forma fácil?
O que é ficar quieto para que verdades não sejam ditas?
O que é ser indiferente para não contar a novidade que não se pode dizer?
O que é ser previsível quando se deseja compartilhar a felicidade de um objetivo conseguido?
O que é dizer "eu te amo" da boca para fora?
O que é dizer "eu te odeio" em momentos de raiva?
O que é parar de falar com alguém quando se quer manter contato?
O que é prometer o "sempre" quando não se sabe o "amanhã"?
O que é largar alguém pelo relacionamento ser perfeito demais?
O que é chamar o outro de arrogante quando se acha sempre o certo também?
O que é julgar o próximo sem olhar para si mesmo?
Mentir para os outros. Mentir para si mesmo.
Mentir para o coração não enxergar o que os olhos podem ver.
Mentir para os olhos não verem o que o coração pode sentir.
Mentiras.
Mentiras, às vezes, podem esconder verdades.
Mentiras, às vezes, podem ser verdades.
Mentiras. Rotinas. Verdades.
Tudo isso é verdade.
Mentira.

24.5.08

Me conta?

Segredo.
Fechado a sete chaves.
Guardado como um tesouro.
Assuntos importantes que não devem ser espalhados por aí.
Talvez, compartilhado com amigos de confiança.
Talvez.
Sinônimo de confiança.
Claro.
Mas se não compartilhados, as dúvidas podem aparecer. Nos deixar mais confusos.
Certeza.
Os amigos podem nos deixar mais confusos ainda.
Talvez.
Compartilhar o torna meio segredo.
Talvez.
Mas, com a pessoa certa, continuará guardado.
Certeza.
Se dado como existente e não compartilhado, a amizade pode ficar abalada.
Talvez.
Se o segredo afetar o amigo, ele deve ser bem pensado, mas dito.
Certeza.
Uma dúvida certa.
Uma certeza duvidosa.
Certo?
Ou talvez?
Seria também isso um segredo?

28.1.08

Let's go to the samba!

Batuque da alegria. Repinique de extasiamento. Surdo de pulsação acelerada do coração. Ganzá de ritmo certo. Cuíca incentivando a entrar no clima. Tamborindo mandando entrar no clima. Caixa dizendo "parou por quê?". E o agogô reincentiva.

O samba-enredo canta o passado. O passado como ensinamento. Ensinamento a partir de acontecimentos bons e ruins.

Ah. A ansiedade de sambar.
Sambar a felicidade, a página virada, os novos acontecimentos, os que estão por vir, as mágoas mais do que deixadas para trás.
Sambar malandramente os aborrecimentos e decepções ditos por momentos de magoamento. Não deviam ter sido ditos. Não valiam a pena nem adiantariam. Seriam aprendidos pelos alvos de qualquer jeito com o tempo. A maturidade ainda viria para eles.
Sambar a alegria de permanecer o mesmo. De não mudar com tudo. De não se deixar afetar mais.
Acima de tudo, sambar a si mesmo.

O final do desfile chega. A bateria se cala. O fim do carnaval.

Nada disso.

Carnaval tem todo ano.

Que o melhor venha no futuro.
Porque ele será o presente. E o presente, depois, passado.
E o passado a ser apresentado no próximo desfile.

Sambe atrás do futuro. O enredo deve ser o melhor!

Let's go samba!